quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Cara Trava, o Caramujo

Hotel de festival é a parte dos bastidores onde acontece aquele um milhão de historinhas típicas do universo rocker. Outras não tão constantes assim. Vamos ao cenário: Cult Hotel, Recife-PE. Situação: madrugada do segundo dia do Abril Pro Rock. Personagens: vetado (pero no mucho).

Todo mundo se aproveita de uma porta entreaberta, mesmo que do outro lado tenha um gótico maluco de cueca, igual a um panda de tanta tinta preta escorrendo ao redor dos olhos. O voyer em questão tem opções estranhas, é verdade, mas calham com a dose de disposição de espírito de um integrante da Mini Box Lunar na mesma medida que cabe ao gótico exercitar sua estranheza em frente ao espelho. Enquanto o primeiro corria um risco excitante e deliberado, rindo mudo pelos poros, o outro jogava com as perspectivas de observado e também de observador do voyer pelo espelho. De repente, jogava-se o jogo de olhares tipo aquele descrito por Foucault em As Palavras e as Coisas, na análise sobre Las Meninas, de Velásquez.

O gótico dançava lentamente com as mãos numa posição meio egípcia. Travava no ar e mudava de lado novamente. Até que de súbito flagrou seu observador, não mais pelo espelho, virando rapidinho com as mãos em frente aos olhos como se segurasse um binóculo. O voyer se assustou na primeira vez, mas depois de umas tantas repetições da coreografia egpcio-binóculo-egipcio preferiu se divertir mais um tempinho.

Essa história foi contada no decorrer das estradas umas quinhentas vezes e dela surgiu a coreografia “o cara trava, o caramujo” que você pode conferir nos vídeos dos shows da Mini Box Lunar e do Nevilton nesta 2° Turnê Fora do Eixo Nordeste. É só acessar o You Tube.

3 comentários:

Lincoln Noronha disse...

Não sei quem era o Vouyer, mas pelo texto e pela referência Foucaultiana, sei quem escreveu o texto.

A jogada do Velazques é pintar um quadro que parece não ter sido pintado por ninguém, pois toda a perspectiva está dentro do quadro: desde o passante observador casual (ao fundo, no corredor) até o próprio pintor, incluindo o casal que estaria sendo pintado (aparecem no espelho). Quem está posando para quem? Las meninas para seus pais ou seus pais para o pintor? Igual à uma argumentação "técnica e não política", parece que o produto final se apresenta a si mesmo, como se ninguém fosse responsável pelas escolhas que foram feitas, como se as escolhas evidenciassem-se a si próprias, sem que o ser humano existisse e pudesse ser responsabilizado no processo. Dá para fazer um belo paralelo entre essa análise do quadro do Foucault e o texto do Marcuse sobre a racionalidade técnica enquanto ideologia.

Lincoln Noronha disse...

Ah! Faltou o link para os vídeos (para os preguiçosos que não querem ficar "localizando" no youtube).

Otto Ramos disse...

tae o link Linconl!!! abs